sábado, 29 de janeiro de 2011

Os Beatles excursionam pela América em 1964 parte 3

Durante as apresentações, o trabalho da polícia era basicamente salvar a vida das pessoas que tropeçavam. Sim, porque uma vez que os Beatles subiam ao palco, a reação imediata era o estouro da mulherada, todas em direção ao muro de proteção. Quem tropeçava, e sempre havia algumas tropeçando, corria risco de vida. Depois haviam as meninas que desmaiavam, ou do calor ou de emoção. Em Nova York, mal os quatro saíram da limousine para entrar no hotel, alguém roubou do pescoço de Ringo, sua medalha de São Cristóvão. Dentro do hotel, através de uma linha telefônica direta com a estação WABC, com o famoso DJ Cousin Brucie na outra linha, Ringo tristonho pedia que se devolvesse a medalha dada a ele por uma tia. Cousin Brucie sugeriu que a recompensa fosse um beijinho de agradecimento e com isso a notícia se espalhou como fogo em palha. Em menos de uma hora, a pequena Angie McGowan, apareceu com a medalha, para devolver. A estação a escondeu para manter o assunto no ar por mais algum tempo, prolongando o drama. Os rapazes se divertiam conversando com diversas estações de rádios, geralmente pedindo canções de outros artistas como Fats Domino, Little Richard e Chuck Berry.
O show seria realizado no Forest Hills Tennis Stadium e, para chegar lá, foram de helicóptero. Momentos antes, ao averiguar o estádio, Bob Bonis descobriu que fora armada uma tenda vazia para os Beatles, como camarim. "Isto não serve, deveríamos estar com o camarim dentro do clube", ele tentou negociar. "Não será possível, a administração teme que eles possam estragar o lugar. Além do mais, já está tarde, os Beatles já estão no helicóptero a caminho", responderam. Bonis imediatamente puxou alguma geringonça do bolso, esticou dela uma antena e falou "Isso não é problema, ou você libera um camarim mobiliado ou eu ligo agora mesmo e mando o helicóptero voltar." "Não, não, não, eu vou conversar com eles", foi a resposta. Bonis, disfarçando um sorriso, abaixou a antena e guardou de volta no bolso seu rádio AM portátil. Quando os Beatles aterrissaram, o camarim estava pronto e aguardando. Lá conheceram Benny Goodman. Este foi para muitos a melhor apresentação da banda de toda a excursão. O público máximo do recinto era de 17.000 lugares, todos tomados. A NYPD destacou 200 homens no local e nenhum incidente maior foi registrado.
De volta no hotel, Derek Taylor segurava jornalistas e algumas celebridades, como o trio Peter, Paul and Mary, enquanto os rapazes jantavam. Bob Dylan e Al Aronowitz, que voltava de sua residência em Woodstock, foram levados direto para a suíte dos rapazes. Lá, com os quatro Beatles estavam apenas os mais íntimos, Brian Epstein, Mal Evans e Neil Aspinal, todos de Liverpool. Feitas as apresentações, em meio às conversas iniciais os rapazes ofereceram suas pílulas, uma cortesia entre músicos que geralmente necessitam de anfetaminas para agüentar o pique exigido pela carreira. Dylan declinou e ofereceu em troca maconha para relaxarem.
É largamente divulgado hoje em dia que Bob Dylan apresentou maconha para os Beatles, mas isto é só parcialmente verdade. Os Beatles fumaram maconha certa vez em Hamburgo, lugar onde eles conheceram, pela primeira vez, muitas coisas. Mas não curtiram muito pois ficaram apenas rindo à toa, não levando a nada. Brian foi o primeiro a se pronunciar, "Os Beatles nunca fumaram maconha". Dylan, confuso, perguntou sobre a canção em que a letra diz "And when I touch you, I get high, I get high" (E quando eu lhe toco, fico alto, fico alto). "Mas a letra não é essa", retrucou Lennon. "A frase é ‘I can't hide’" (Não consigo esconder). Enganos a parte, Dylan ofereceu acender um, se o pessoal estivesse interessado. Pediu que as portas fossem trancadas, as luzes apagadas, enquanto incensos e velas foram acesos. Foi explicado como inalar a fumaça e, durante o decorrer da noite, Dylan fez desenhos com a brasa do incenso e os papos fluíram soltos. Se em Hamburgo a experiência não teve graça, desta vez eles realmente relaxaram e se divertiram. Maconha passou a fazer parte dos acessórios de recreação da banda.
Na entrada de um dos hotéis em que eles se hospedaram, Bonis ouviu uma mãe conversando com sua filha: "Uma vez que você chega lá em cima, tenha a certeza de que John Lennon está no quarto. Aí grite ‘estupro!’. Estaremos ricos." Em Filadélfia, um Sr. Charles Finley, dono de um clube de baseball em Kansas City, ofereceu US$150,000 para que os Beatles abrissem mão de um dia de descanso e se apresentassem em sua cidade. O convite já fora negado quando ainda estava em US$50,000, e depois em US$75,000, mas agora o dinheiro ajudaria a pagar várias despesas hoteleiras extras que acumularam. Brian consultou os rapazes, explicando o fator histórico de serem os primeiros a receber tamanha importância por uma única apresentação e os contratos foram redigidos e assinados.
Em Indianapolis, às cinco da manhã, Ringo, com insônia, solicitou que dois guardas locais levassem ele para uma volta de carro, para conhecer a cidade. Durante o passeio, Ringo ganhou os dois patrulheiros com seu humor e polidez e estes o levaram até a casa de um deles, uma fazenda caipira. Ringo passeou com a filha de onze anos entre vacas e galinhas. No caminho de volta pararam para comer e Ringo assinou autógrafos para algumas crianças, incrédulas de sua boa sorte. Mais tarde, antes do show, outro aviso anônimo de um atentado à bomba é feito, mas novamente nada é encontrado e o show é realizado normalmente.

Continua na próxima parte...

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