sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Paul McCartney fala sobre o álbum "Band On The Run" para a revista Clash

Em conversa com a “Clash” durante um merecido feriado após um verão de shows esgotados em estádios, Paul lembrou dos anos traumáticos que norteou um clássico.

A diversidade dos seus quatro primeiros álbuns solo foi você aproveitando a liberdade de trabalhar sozinho, ou foi você tentando se encontrar como um artista solo?
Eu acho que foram os dois. Eu certamente estava aproveitando a liberdade de apenas fazer algo diferente. Sempre fui assim, e ainda sou – é como o projeto “The Fireman”: de repente eu posso realmente tentar algo novo. E então, o outro elemento era que eu sabia que não poderia fazer uma cópia dos Beatles – eu sabia que era impossível; sem John, George e Ringo não havia nenhuma forma de se fazer isto. Eu sabia que teria que tentar fazer algo novo, então cada um dos álbuns foi uma tentativa de estabelecer uma identidade para os Wings (Nota do Tradutor: Banda que Paul montou após os Beatles) e que seria reconhecido com um tempo, como sendo o som dos Wings.

Após as diferentes reações a estes álbuns, “Band on The Run” soou como se você estava tentando provar algo. Foi este o caso? Você sentia que tinha que aparecer com alguma coisa especial?
Sim, de várias formas, porque dois dos caras (McCullough e Seiwell) deixaram a banda na noite anterior a irmos para Lagos fazer o disco. Aquilo foi como uma bomba. Imagine como eu fiquei quando recebi aquele telefonema: foi como, “ah, se controle, não se desespere. O que faremos agora? Dane-se, nós vamos”. E aquele momento foi como, “eu vou mostrar a eles. Vou gravar o melhor álbum que já fiz. Vou colocar todo meu esforço nele só para provar que nós não precisamos de vocês”.

Isto fez do álbum um disco raivoso?
Não acho que o disco seja raivoso. A primeira semana de gravação eu me sentia bem furioso. Mas que saber de uma coisa? A verdade é que eu supero as coisas bem rápido. Quer dizer, naquela noite foi, “merda”. Foi ruim – dois integrantes da banda caíram fora, sendo um o baterista, que uma peça central. Mas Denny tocava guitarra – já não estava tão ruim – e então eu pensei: “Bem, eu fiz o ‘McCartney’, posso tocar bateria, osso fazer isto e aquilo, e apenas vamos replanejar a coisa toda”. Mas houveram muitas dificuldades.

Foi o caso de ter que repensar as canções? Vocês viajaram com as canções planejadas e começaram de um esboço, ou começaram compondo novas canções?
Ainda não havíamos ensaiado nada com a banda – iríamos fazer os arranjos lá – mas eu tinha tudo planejado em minha cabeça. E sim, tivemos que repensar… Particularmente o método de gravação, que tinha que ser diferente. Só haviam três de nós – eu, Linda e Denny – para fazer a gravação básica, e então eu iria adicionar as partes que faltavam. Tivemos que repensar o que estávamos fazendo. Eu acho que as canções em si foram as mesmas – foi a instrumentação e os arranjos que mudaram. Mas por um lado eu achei que isto foi uma coisa boa, porque revisar as coisas nunca é a pior idéia.

Você foi assaltado quando estava em Lagos, e eles roubaram as fitas. Havia algo gravado nelas?
Sim, tinha tudo o que nós ja havíamos feito. Era a demo original de “Band on The Run”. Era algo que valeria algo no “E-bay” nos dias de hoje, sabe? Mas não, nós imaginamos que os caras que nos assaltaram não teriam nenhum interesse. Se eles soubessem, poderiam ter guardado e feito uma pequena fortuna. Mas eles são sabiam, e nós imaginamos que eles provavelmente gravaram algo por cima.

A frase em “Band on The Run” que diz “if we ever get out of this place”, aparentemente foi algo que George Harrison disse numa reunião dos Beatles. Isto significa que a canção se origina daquela época, ou era algo que estava apenas protelando em sua cabeça?
Não me lembro de ser uma frase de George. Não sei sobre isso. Mas sim, certamente tinha a ver com aquilo. Era simbólico: “if we ever get out of here… All I need is a pint a day” (N.T.: “Se algum dia sairmos daqui… Tudo que preciso é de um chopp por dia”). O sentimento da coisa toda era este, porque nós fomos… Se você for pensar, começamos como uns garotos que adoravam a própria musica e que queriam ganhar um trocado para poder comprar uma boa guitarra e um bom carro. Era uma ambição muito simples no início. E então, você sabe, a coisa foi seguindo e se tornando reuniões de negócios e tudo aquilo, e eventualmente deixou de ser divertido. Você tinha que ir a todas estas reuniões, então havia um sentimento de “se um dia sairmos daqui”. E eu saí.

Quanto da briga entre você e os Beatles foi realmente rancorosa? No álbum há a canção “Let me Roll It”, que aparentemente é uma resposta a Lennon, mas as letras soam como um convite para serem amigos…
Bom, não, haviam outras canções que eram mais para este lado. “Let me Roll It” não foi para John, foi apenas no estilo que fazíamos nos Beatles e no estilo pelo qual John era reconhecido. Na verdade foi apenas o uso do eco. Foi uma daquelas coisas: “você não vai usar eco só porque John já o usou?”. Para dizer a verdade, ela fala mais sobre enrolar o baseado. Este era o duplo sentido lá: “Let me roll it to you” (N.T.: deixe-me enrolar para você). Isto é o que estava por trás mais do que qualquer coisa. “Dear Friend”, do álbum “Wld Life” de 1971, foi um “vamos ser amigos?” para John.

O progresso criativo dos seus álbuns que falamos antes pareceu ter encontrado seu lugar em “Band on The Run” – dele em diante os álbuns pareceram ter um apelo popular muito forte. Você estava tentando consolidar o que fez e provar seu valor como artista solo, ao invés de se arriscar a receber críticas provocativas?
Não, foi apenas a forma que funcionou. Eu acho que apenas nos tornamos uma banda melhor. Eu descobri o que estava tentando fazer funcionar, que era “qual é o som do Wings?”. E uma vez que você consegue, você pode estar com ele. Os álbuns que vieram depois ainda eram diferentes, mas como já éramos populares, descobrimos o que nossos fãs gostavam. Então aí está seu estilo. Eu acho que é o que acontece com as bandas – certamente aconteceu com os Beatles e com o Wings: você começa imitando as pessoas e apenas brincando, tentando descobrir o que funciona e o que não funciona. E na época do “Bando n The Run”, canções como “Bando n The Run”, “Jet” e “Let Me Roll It”… de repente encontramos músicas com as quais as pessoas podiam se identificar. Me lembro de Richard e Karen Carpenter me telefonando para falar sobre “Jet” – eles eram as últimas pessoas na Terra que eu pensaria que gostariam de “Jet”, mas eles falaram, “oh, grande canção, cara”! Então, você sabe, estava ressoando nas pessoas. Eles estavam gostando das músicas. Por exemplo, ela é uma das preferidas de Dave Grohl. Novamente, não pensaria que seria a favorita dele. Então, sim, o que fizemos foi que encontramos nosso estilo e foi como, “ok, agora sabemos o que é o Wings”. Então meio que nos apegamos a isto e o ótimo é que agora elas são grandes números no meu show atual.

Há algum plano de fazer um show em comemoração ao aniversário do “Band on The Run” e tocar o álbum inteiro?
Me foi pedido para fazer isto, então irei analisar e considerar, mas não é uma idéia que um dia eu mesmo teria. Pode ser uma boa idéia, mas vou pensar a respeito.

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